01/12/2012

“Respeitável senhora”.

Cresci em um tempo onde, em casa, eram velados os mortos…

Um tempo no qual crianças iam a velórios e a morte não lhes era escondida ou negada...

E, uma ou duas vezes, fui repreendido por brincar sob cachões…a efervescência da vida se contrapondo à imobilidade da morte…vida e morte; sempre unidas e sempre separadas…

Talvez por isso me compadeça com o medo e ingenuidade daqueles que tentam, com silêncio e “cosméticos”, colocar na sombra essa “inevitável senhora”.

 

Talvez por isso tenha me surpreendido quando fui criticado por levar meus filhos, ainda crianças, aos velórios do avô e do primo…

- Você deveria poupá-los disto! Disseram.

Como se devesse me sentir culpado por permitir que crianças indefesas fossem apresentados a uma “indesejável senhora”.

Talvez por isso tenha gostado do artigo de Cláudia Collucci sobre essa “incompreendida senhora”.

Talvez, também por isso, tenha resistido a uma medicina que se agarrando exageradamente à vida, só agora, com os cuidados paliativos, comece a reconhecer um antigo/novo lado de uma “respeitável senhora”.